O tabu da morte

As sociedades tradicionais, fortemente marcadas pela predominância da vida comunitária, são sociedades relacionais, nas quais as pessoas encontram-se inseridas numa totalidade que lhes dá apoio, em que uma série de cerimônias e rituais cercam os acontecimentos do nascer, casar e morrer. Não se pense que seria fácil morrer, porém a morte era aceita de modo mais natural, como parte do cotidiano das pessoas.
É interessante lembrar que ainda na primeira metade do século XX o moribundo permanecia em casa, sua agonia era acompanhada por parentes, amigos e vizinhos e ele tinha consciência de estar morrendo, porque nada lhe era ocultado. Após o desenlace, o morto era velado na própria casa, inclusive com a presença de crianças. O luto dos parentes próximos era indicado pela roupa: a viúva usava roupas pretas por um ano inteiro, e o viúvo, uma tarja preta no braço.
Esses costumes mudaram a partir de meados do século XX, como resultado do processo de urbanização e de industrialização. A grande cidade cosmopolita destruiu os antigos laços e fragmentou a comunidade em núcleos cada vez menores, acelerando o processo do individualismo. Consequentemente, mudou o sentido da morte.
No mundo urbano contemporâneo, quando alguém morre, o velório não costuma ser mais em casa, e sim no necrotério, para onde não se costuma levar as crianças, que crescem à margem dessa realidade da vida: nunca veem um morto, nem um cemitério.

Leia “Consoada”, de Manuel Bandeira.

Quando a indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo
Talvez sorria, ou diga:
Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer.

(A noite com seus sortilégios)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa no seu lugar.
Gustav Klimt (1863-1928), pintor austríaco, em Morte e vida, 1916, mostra-nos as três idades da vida e a morte à espreita.


 
Hoje cresce o número de assassinatos, suicídios e desastres. Muitos países têm alta taxa de mortalidade infantil. Estatísticas indicam o crescimento dos índices de homicídio de jovens até 19 ano. A história com suas guerras e massacres, não nos deixa esquecer as pessoas que perderam a vida precocemente. Hoje o direito da vida (até da morte) digna estão se estreitando pelos conflitos.
Começa por nós para que na hora da morte tenha paz, não aos conflitos para obter dinheiro, bens e outras coisas. Sempre faça sua vida digna para que na hora da morte o seu nome seja lembrado junto a boas ações.

A morte é um fim de uma etapa para o começo de outra.

Comentários

  1. Nunca pensei nisso, a morte antigamente era uma coisa natural para o ser humano, eles faziam rituais, dançavam e homenageavam o morto. As pessoas eram lembradas dos seus feitos, ninguém escondia a escuridão.
    Hoje as pessoas pensam que a morte é uma coisa ruim, e as crianças também aprendem assim, de acordo o que li, as crianças participavam da cerimônia, hoje muitas vezes elas são privadas.
    E também, naquele tempo as pessoas morriam de velhice, envenenamento por animais peçonhentos,
    o cara estava caçando e foi atacado, e hoje é assassinato.
    A morte é boa, nós vivemos eternamente, somente o corpo morre, mas a alma continua viva.

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